quinta-feira, dezembro 23, 2010

então, lá vem

A minha última postagem aqui se chama "(um) desejo para dois mil e dez". Engraçado que eu comecei esse ano pensando em escrever mais e acabei, no final das contas, escrevendo mesmo mais. Só que mais artigos, mais textos acadêmicos, mais continhos solitários (e solidários, mesmo que você não tenha percebido). Esse blog ficou às moscas camponesas e eu, ocupada com outras coisas, achei que não teria problema. Não teve.
2010 foi o ano em que tudo, absolutamente tudo, mudou. Eu, de tanto levar pancada em 2009, procurei caminhos novos e encontrei um levemente frágil e esburacado, como que esperando por mim. Esperando pela reforma. Constante e intensa. Foi caminhando por ali que aprendi que desejar dói, que cortar a cenoura pra janta é prazeroso, que a espera renova e que fazer sexo santamente todos os dias é ótimo. Inclusive com uma aliança no dedo.
Deixei ódios e pessoas pra trás e me abençôo, de joelhos, todos os dias por isso. Passei por uma cidade, duas cidades e parei na terceira. Onde ficar até o final de 2012 é objetivo não desejado, mas obrigatório. A gente escolhe o que fazer da vida para, conseqüentemente, deixar de escolher muitas outras coisas. Eu escolhi cursar Filosofia numa faculdade federal, mas não escolhi não ter dinheiro por muitos anos. O bacharelado escolheu por mim. E eu, não sem me lamentar nas noites em que só tínhamos pão e mortadela, aceitei.
Alguns amigos ficaram. Um deles me deu o melhor presente de aniversário de todos e eu sei que sempre vou chorar ao lembrar do dia caloroso em que vi o tio Paul tocando uma obtusa imitação havaiana de cavaquinho. Alguns amigos disseram 'até logo' e nunca mais os vi. Mas eu sei, eu sinto, que vão voltar. Outros preferiram dizer 'adeus' do pior jeito possível, pra eu nunca entender. E apareceram aqueles comprados, que depois eu adotei como meus, pra tomar tapa na cara nas horas de paranóia sentimental e infernizar em todos os encontros. Enfim, teve gente que não me quis, mas quem me quis: quis demais. Me quis inteira. E inteira eu sempre fui.
Eu adotei uma gata, ela derrubou todas as minhas flores, furou todos os meus canos e rasgou não menos do que cinco peças de roupa. Apesar disso tudo: é ela quem me faz companhia quando eu passo a madrugada acabando um texto -e me acabando no instante seguinte. Quando ela aparece toca Ave Satani, a gente sabe. Mas se não fosse assim: rir do quê nos dias do final do mês? Há de se rir. E esse ano eu ri tanto quanto chorei. E sempre houve um mesmo alguém pra rir comigo ou pra dizer que eu era ótima, que era a melhor. Há de se mentir também.
2010 foi o ano da aceitação. Eu abri os braços e disse: vem. Veio. Você, eles, eu mesma. O desafio de um ano diferente foi posto lá no mês de janeiro, longe, longo. Eu aceitei e aceitando: foi lindo.

2011, eu aguardo você. Vamos comemorar a vida juntos.