quinta-feira, janeiro 31, 2008

Cotas, ainda;

É triste (e isso no mesmo sentido que se dá quando se "sente pena" de alguém por um gesto estúpido em demasia cometido pela pessoa)a "revolta" das pessoas que não conseguiram uma vaga na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na segunda-feira (isso se não cometo nenhum erro de memória) um grupo de pessoas indignadas com a perda da entrada na Federal fez um "protesto" em frente à reitoria da Universidade, exigindo "justiça" e recuperação dos males causados pelas vagas para cotistas (A saber: Cotas para alunos de escola pública e negros de escola pública [Veja aqui um resquício do preconceito...]). Estudantes estão processando a Instituição, li no jornal. Achei, muito mais que imoral, uma atitude pretenciosa e desnecessária. Ora, quem fez a inscrição do vestibular bem sabia das chances de ser aprovado(e nem observemos o quesito "quanto se estuda")no mesmo. Se tinha consciência disso e mesmo assim se inscreveu é porque acabou por aceitar o estabelecido(a contragosto ou não). Ou seja: não tem moral nenhuma de querer reclamar depois. Se havia um momento para reivindicar pelos "direitos" e discutir sobre a coerência do sistema cotista era antes do vestibular, e não depois que ele ocorreu. Hipocrisia, se chama. Só não sei se da UFRGS que implantou as cotas, dos vestibulandos reprovados que agora processam a Instituição ou se dos cotistas que aceitaram o sistema de bom grado. De todos, talvez.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Forte como o Vento, incompreensível como o Tempo

Nessas horas da tarde quase noite, quando o sol começa a tocar o horizonte e se esconder atrás do morro e os pássaros cantam canções longas e chorosas, é que lembro do passados, dos sonhos de criança, dos desejos tão simples e tão deslocados. Ser bailarina, cantar na televisão, cuidar dos (outros) animais, ter um bosque para passear, sonhar que voava, passar no vestibular, comprar uma livraria, morar e estudar em Santa Maria, fazer alguns amigos, ganhar um vestido de bolinhas, encontrar uma verdadeira Princesa, ser uma, engravidar e "ter" uma Sofia, mergulhar no fundo do mar, conhecer os Beatles, numa casinha simples de cortinas xadrez e horta nos fundos morar, escrever um livro, ter alguém para conversar, falar francês, ser a melhor, lembrar dos sonhos, não sentir inveja nem ciúmes, crescer e mais tarde encolher, querer sofrer por gostar. E então continuar a crescer e não poder encolher. Me transformar sempre no que já sou, porque me renovo a cada dia mas não mudo nunca. Forte como o Vento, incompreensível como o Tempo.

terça-feira, janeiro 22, 2008

do inglês

É uma língua mundial, dizem os empreendedores. E complementam: devemos aprendê-la pois nos transporta por todos os continentes (sim, se é mundial...), nos abre novos caminhos, nos facilita e muito a comunicação no chamado terreno moderno competitivo, além de se fazer uma cultura a mais, o que é "sempre (ainda tenho algumas dúvidas se realmente qualquer conhecimento adquirido pode ser considerado um ganho positivo [não achei redundante])" bom. Todavia me parece tão absurdo que seja "exigido" o inglês, que seja implantado nas escolas e cobrado, enquanto vemos pessoas "enterrando" o português, idioma natal e desde sempre conhecido. Não seria mais fácil se tentássemos ensinar nossos filhos a falar corretamente o que é absolutamente necessário para o dia-a-dia (digo, o tal português) ao invés aumentarmos os lucros dos cursinhos de inglês? Idioma "mundial"? Importante. Idioma real do cotidiano? Indispensável.

de parentes

De surpresa eles chegam, invadem sua casa, roubam sua cama, terminam com sua comida, espantam suas possibilidades de passeios, escravizam o seu tempo, deletam sua privacidade, detonam com suas finanças, bagunçam o seu sofá e depois vão embora saltitantes e felizes. Se chamam parentes, aqueles seres que aparecem uma vez por ano e traumatizam por uma vida inteira.

(Lembro que nem todos são assim. Mas... será?)

quinta-feira, janeiro 17, 2008

das grandes cidades

Antes um mato, agora um trapo. Desse jeito simples e pouco sofisticado que pensei nas tais megalópoles, aquelas cidades grandes onde o que mais se vê é sujeira e restos de humanos estendidos pelo chão. Será que é mesmo preciso de todos aqueles prédios, de todas aqueles carros, de tanto barulho e lixo para se viver? Não é opção, alguém de gravata grita lá do último andar. E é o quê?, eu pergunto. Sei que não posso ser injusta, porque, para alguns humanos, realmente não é opção. Não há como dizer que um filho de um pai alcoólatra desempregado e mãe analfabeta submissa tenha muitas opções. Não tem. Cresce num meio que não lhe oferece perspectivas de melhora, e passa a achar que é absolutamente normal viver com fome numa cidade fedorenta e poluída. Triste, mas verdadeiro. Agora, uma pessoa mais instruída, que pôde freqüentar uma escola e tem uma noção do que é melhor para si... ora, ela tem opção. E tem porque se dá conta disso, apenas.

Cada vez creio mais que "as coisas estão como estão" porque não há uma consciência de bem-estar coletivo. E isso se deve (tente me convercer do contrário!) ao sistema capitalista que implantamos e afomentamos. É o desejo do lucro que freia o desejo de se sentir bem. Para um dia alegre não são necessários o engarrafamento nas ruas, a poeira cinza nos ares, muito menos a tristeza de quem não tem opção. E isso depende de cada um e seus respectivos gestos. Cuide do que faz de sua vida.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

A Idade da Razão

Enfim, férias! Foi esse o meu pensamento ontem. Passou-se um dia e já não sei mais o que fazer com os segundos tolos que se arrastam nessa casa alta e cheia de janelas. Ler, talvez. É, foi o que restou. De um golpe devorei "A Idade da Razão", do Sartre. E me senti vazia, trasparente como nunca. Não há como dizer que seja um livro fantástico, realmente fica bem aquém disso. Todavia, a estória é envolvente, uma bela analogia ao "ser livre", ao "se aceitar". Há o Mathieu, homem que seguiu sua vida buscando a liberdade, não querendo envolvimentos profundos, rogando desgraças ao tipo burguês do dia-a-dia. Deixou de viver o presente pensando na liberdade do futuro. Eis que se deparou com o inevitável: era tão preso à vida quanto qualquer outro. Era um corpo de ar, trêmulo ao vento, vazio, porém cheio de sentimentos. O que há de livre nisso? Absolutamente nada. Dessa revelação se fez sua "idade da razão". Outra personagem interessante é Daniel, um homossexual que tem nojo de sua "condição". Em certa cena do romance (dou-me o luxo de classificar assim) pensa em cortar o próprio pênis, porém, cheio de medo, desiste, amaldiçoando a existência. Digo que não há como não se sentir um pouco abalado depois de uma leitura dessas. Algo como se dar conta de certas coisas, acordar para a tal da dor que é viver. Sim, Sartre, transformaste meu sábado num inquietante e desolado domingo. Agradeço.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

do que espero

É, lá vou eu. Uma semana de inconstância até a hora de ver meu nome escrito naquela bendita (ou maldita, ainda não consegui classificar com precisão...) lista. Isso cogitando a hipótese de que ele esteja lá. Mas estará, estará, e vou crendo que estará, nem que em último lugar... E agora me é até engraçado pensar que passei um ano da minha vida direcionando "tudo" ao vestibular: horas, tardes, leituras, palavras, discussões, cálculos. Um ano. Se foi positivo não sei, nunca hei de saber, nem ao ver o nome naquela lista. Será que vale tanto por uma vaga numa federal? Eu poderia ter lido tanto Nietzsche, tanto Sartre, tanto Hobbes, tanta mitologia grega, tantos clássicos da literatura brasileira. Poderia ter aprendido sobre lei e ordem, poderia ter feito conclusões acerca da moral quase esquecida. Ter olhado mais para o verde e menos para o cinza, caminhado mais na floresta, fundado uma instituição de ajuda ambiental, recolhido alguns destroços humanos por aí. Todavia, como nossas conseqüências dependem de nossas escolhas (será?) só me restava um ano fazendo exatamente o que fiz: desejando uma vaga na federal. Foi um ano que decidirá sobre todos os próximos. E meu nome estará lá.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Céu

O céu é um grande fazedor de mentiras. Basta que olhemos para ele por um tempo, de prefêrencia deitados em algum gramado bem verde, e as coisas ruins desaparecem. Ilusão, talvez...

terça-feira, janeiro 01, 2008

Hipocrisia mundial

Hoje acordei em dois mil e oito e, espantada, descobri que as coisas continuam todas iguais. As injustiças não acabaram, as armas continuam sendo fabricadas, animais (humanos ou não) ainda morrem por quase nada, mais e mais vidas são acimentadas. Veja só, que triste, não é? Como pode iniciar um lindo e fantástico novo ano cheio de felicidades e pessoas sorridentes se tantos fatos e atos ruins não cessaram? Para mim é uma incógnita. Um mistério não desvendado...

E na noite de trinta e um de dezembro de todos os anos reina a hipocrisia mundial. Pelo menos nessa data as pessoas não a escondem, assumem-na de uma forma descarada. Sorrisos, abraços, dizeres amistosos, espumantes espumando, mesa farta, barulhos em excesso, fogos coloridos. E lá no fim da rua alguém sem chão, sem comida, sem abraços, sem pessoas. Dura vida real da noite de fim de ano e de todos os dias. Vê agora por que não há motivo nenhum para comemoração?

Se é para se ser otimista que se seja todos os dias. Que se celebre a vida em cada manhã, que se acredite num futuro de mudanças em cada novo passo, em cada novo segundo. E se substitua as promessas por ações, os pedidos por doações, as felicitações por poesia e as simpatias por sonhos.