quarta-feira, julho 18, 2007

A vida

Afinal, qual seria o ápice da vida? Será que para todos esse momento "mais alto" é igual, ou cada pessoa faz o seu próprio pódio? Algumas pessoas consideram o nascimento como o grande ápice da vida de todo ser-humano. Discordo. Para mim o ápice é a morte. E isso me parece óbvio. Pensemos: qual a finalidade de viver? Morrer. Fácil até aqui, não é mesmo? Se trabalha, se perde, se busca, se sofre... e tudo isso para quê? Sim, para lá no final morrer. Totalmente natural. Pena que poucas pessoas aceitam isso de uma forma legal, racional. Mas não há escolha, ainda não se descobriu o elixir da vida (e se descoberto ainda não foi divulgado). E, veja que fantástico!, queremos parecer diferentes uns dos outros (na grande "diversidade" animal) quando, na verdade, nossas vidas são todas iguais. Nascemos todos e morremos todos. Quando eu conseguir ser imortal aí sim, terei "orgulho" de clamar: Sou eu diferente. Mas assim, como estou hoje sou é bem igual aos outros. E se igualar é generalizar. E se generalizar é se tornar comum. E o comum não pode ser diferente. Então, mesmo que eu seja imortal, vou ser igual. Porque generalizei e me tornei tão trivial quanto qualquer outro.

A (enganadora) criatividade.

"É hoje!", você senta na frente de um velho caderno pessoal de redações, dissertações, crônicas (mais seus derivados) e pensa. Um dia chuvoso, perfeito para comer uma pipoquinha e ler um bom livro. Mas não! Você acordou com um ímpeto criativo, com uma vontade louca de colocar algo no papel e sabe que esse "algo" vai ser fantástico. "Claro, é hoje. E vai ficar fantástico! fantástico...". Pega a caneta, e sabe que aquele assunto que há dois dias você vinha pensando em transformar em crônica hoje vai ter a atenção merecida. Concentra. Escreve a primeira linha. "Não, não... preciso começar diferente. Com mais vigor, com mais força. O bom início faz uma boa crônica (é, nem sempre...)." Escreve novamente. E...novamente não gosta. "Pô, mas eu tinha tudo em mente. Acordei pensando nisso. Tinha o texto formado na cabeça. Estava alí, alí..."E a vontade de escrever continua, a criatividade pulsa em seu interior. Você sente. Mas o texto não sai. Simplesmente há algo que impede essa criatividade de se expandir, de se tranformar em algo concreto. Mas... o que será? É, você não sabe. E começa a se preocupar. "Ora, os grandes escritores, principalmente aqueles que têm colunas diárias em algum jornal, não devem sofrer desse mal. O assunto deve existir e facilmente ser desenvolvido no papel." E assim seu sonho de um dia escrever para milhões (não, nem tanto) de leitores assíduos começa a desmoronar. "Deve ser só uma má fase", pensa você. "Isso passa". Mas... e se não passar? "Ahhh, o que eu faço? Preciso escrever, preciso! ". Calma. Respire fundo. Daqui a pouco consegue. Pense em outra coisa. Mas não: "claro que eu não penso em outra coisa. Penso que tudo acabou, isso sim. Já sonhava, até, com a capa do primeiro livro. E tudo acabou.". Não faça tanto drama! Seja positiva! Esqueça a idéia de escrever e vá comer uma pipoca (sem muito sal, que os excessos nunca fazem bem) e ler aquele livro que você precisa devolver na biblioteca amanhã. "Tá aí. Gostei. Vou fazer isso. Mas o que eu queria mesmo era escrever, saiba disso. E estou indo fazer o que tu indicou só por muita insistência, só por isso." Tá, a gente acredita. Então, Ela fecha o caderno, solta a caneta, deita na cama, se satisfaz com o sagrado alimento e se deixa envolver pelos mistérios do Hypnerotomachia.

Viva e deixe morrer.

Como melhorar? Não há forma, não há jeito, não há apoio.
Não sou contra a instituição família, nem há como ser, pois, querendo ou não, eu faço parte de uma. Mas ter família e, principalmente, conviver com ela pode ser terrível. E eu poderia generalizar e falar que as pessoas não sabem o quanto são inconvenientes e estragam os outros seres humanos. O jeito é criar algum forte afastado da civilização e se trancafiar lá, com livros, música, comida (dá pra se ter uma hortinha ao lado do forte...)e água.
Aliada às pessoas que não tem consideração pelo alto grau das outras encontra-se a televisão. Quer coisa mais sem graça que ficar olhando para aquela tela toda pronta, colorida e falante? Ora, ler um livro é muito melhor. O livro tem textura, tem cheiro, tem opções que a imaginação pode usar como quiser. Já a televisão é restritiva (como algumas orações adjetivas!), se absorve o pouco que está ali e pronto. Não há como ir além.
Sons, muitos sons e todos (!) de uma vez só. Como se pode fazer qualquer coisa razoavelmente bem com isso acontecendo? Sério, não há como. Uma televisão e um rádio, os dois ligados juntos. Será que consegue se absorver qualquer informação de ambos os aparelhos? Não sei, não sei. Acho melhor ligar um só e aproveitar totalmente o que por ele "passa". Um proveito de cem por cento, isso sim, isso que todos deveriam querer. Mas tudo bem, acostuma-se (o que é terrível. Tente não se acostumar com as coisas, caro leitor. Se surpreenda com o óbvio [ou melhor: com o que está aqui todos os dias e {quase} ninguém repara].).
Há muito mais o que falar, mas... palavras parecem pouco. Então tenta-se viver, que é o básico que se pode fazer. Como diz Paul McCartney numa de suas canções:"Viva e deixe morrer."