sábado, outubro 27, 2007

Moacir de Iracema

Certos dias tem "um quê de diferente", seja isso agradável ou não. Assim está sendo o meu sábado (que é seu também). Acordei com a lástima da manhã numa hora em que o sol ainda não havia surgido (veja: dia nublado e não hora pequena). Pus-me a catar coisas a fazer e logo descobri que a única forma de preencher um espaço vazio era ignorando-o. E assim surgiu a idéia do estudo de fórmulas químicas (as quais preciso saber numa avaliação futura), prolongado até o momento que se faz o resto da manhã. Havia chegado o meio-dia e com ele a difícil decisão do que almoçar: ovo com pão ou apenas ovo (esta refeição miúda [?] se faz presente na minha vida desde que decidi parar de consumir outros seres vivos [claro que se deve, também e principalmente, aos dias rasos de fim de mês]). Como não havia pão (não um facilmente consumível) escolhi apenas o ovo. A tarde chegou com uma situação nova e esperada: Passar algumas horas ouvindo mais que falando. Uma "conversa na sala (como certa pessoa gostou de enfatizar)" com o também médico Moacyr Scliar. O escritor nada disse que tenha me surpreendido de forma muito reveladora (com a exceção de certo pensamento, o qual eu nunca havia tido [direi-o depois]). Todavia seus comentários se fizeram graciosos e interessantes, e pude retomar diversas coisas já minhas conhecidas (analogias com as obras do grande Machado de Assis, a relação de aliança entre a História e a Literatura, a carga cultural trazida pelos imigrantes ao estado do Rio Grande do Sul, a importância das estórias passadas oralmente, o dia-a-dia da Academia Brasileira de Letras,...). Algo um pouco triste de se perceber foi o respeito dispensado por quem mais o clama: os professores. E falo isso pois a tal "palestra" foi preparada especialmente aos educadores de vinte e dois municípios aqui da região dos Vales, no interior do Rio Grande do Sul. Os diálogos paralelos (como eles gostam tanto de dizer!) aconteceram durante todo o evento, deixando algumas pessoas profundamente desgostosas (e eu me encontro entre elas). Não seria um pouco estranho que isso venha de quem vive a pedir silêncio entre os alunos ("Enquanto um fala o outro escuta!")? Bem, algumas conclusões (não digo que corretas) podem ser tiradas e não precisam de mínima exposição aqui. O que o Moacyr disse e que me fez pensar um pouco mais foi o seguinte: acabamos por gostar dos livros pois eles representam, inconscientemente, uma força protetora, uma segurança garantida que simboliza nossos pais. Segundo o escritor, quando somos pequenos e nossos pais contam-nos estórias, essa imagem (de, como exemplo, adormecer com o pai ao lado da cama lendo um livro) segura permanece "embutida" em nós. E essa é a chave principal para o carinho que se tem, ao longo da vida, com os livros. Não sei muito bem o que penso a respeito disso, pois não lembro muito de certa fase de minha infância, não consigo formar com clareza a imagem de qualquer pessoa lendo um livro para mim. Mas o que não consigo esquecer são os momentos que passei olhando as figuras coloridas de livrinhos com poucas palavras, as horas dedicadas aos gibis, a alegria ao descobrir um livro ainda desconhecido (óbvio, claro), a impaciência na hora da compra de uma nova revistinha. Disso lembro-me muito bem. Minha vida deve ser um pequeno livro, quem sabe um conto de fadas.

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