quarta-feira, dezembro 05, 2007

do Caio Fernando Abreu

Quando leio Caio me sinto indubitavelmente mais viva. E isso não é constatação que eu confessaria assim tão fácil e simples num tempo atrás. A escrita do Caio me deixa atônita e estremecida, e a surpresa inicial de suas palavras é surpresa constante aliada ao reconhecimento de fatos tão meus em vidas tão distantes. Seus contos, por alguns criticados e desconhecidos, contemplam-nos muito bem ao fazer a junção do significado da palavra viva com o criativo surrealismo incomum que resulta num realismo mágico tão fácil de captar, tão fácil de aceitar como seu. Ele não escreve procurando as massas ou algum tipo de grupo ideal, escreve procurando reproduzir o que sente: essa falta de solidariedade tão presente neste mundo atual. E é isso que mais me cativa: seu jeito tão seu de expressar em palavras o quase imperceptível.


"Então, admitiu o medo. E admitindo o medo permitia-se uma grande liberdade: sim, podia fazer qualquer coisa, o próximo gesto teria o medo dentro dele e portanto seria um gesto inseguro, não precisava temer, pois antes de fazê-lo já se sabia temendo-o, já se sabia perdendo-se dentro dele - e finalmente podia partir para qualquer coisa, pois de qualquer maneira estaria perdido dentro dela."
Caio Fernando Abreu;

Um comentário:

Fischer disse...

Eu não penso o mesmo, mas pode ser porque eu não tenho senso literário (criador).
Parece que não tem como penetrar muito a fundo em alguns sentimentos; se o que o Caio publicou é uma tradução razoável do que ele sentia não consigo dizer.
Mas para mim o mundo não tem palavras muito prontas para ser descrito. (Como medo e liberdade. Quando tenho esses sentimentos, acho que nunca daria nome a eles, nem quando eu sentisse e nem depois, porque talvez não seria exatamente isso.)
(A velha história do tentar ser absolutamente exato que conduz a conclusão nenhuma. Se é que eu aprendi isso, seria mais sábio se pusesse em prática.)