Naquela noite resolveu ir dormir cedo. Não havia razão para perambular pela casa vazia como nas outras noites. Sentia que não restava muito tempo. A voz saia rouca toda vez que precisava falar. Falava tão pouco agora. Limitava-se ao silêncio. As sombras, clarões borrados do dia, pareciam fantasmas. Agiam como fantasmas. Lutar? Não, havia desistido. Para que coisa mais sofrega e dolorida do que lutar sabendo que se vai perder? Queria chorar. Ansiava por lágrimas quentes escorrendo pelo rosto, invadindo por entre os lábios. Mas o máximo que conseguia era sucumbir ao momento, entrar num estado de transe onde tudo se desintegrava. E aquela cama vazia como sua alma havia se tornado seu recinto, assim vazia, sem panos, sem cores. Fria, crua, seca como sua vida. Pela janela do quarto via toda a cidade. Não avistava as pessoas mas sabia que elas estavam lá, vivendo. Ela fingia viver. Farsante, velha, abdicava de todos os prazeres porém não deixava de deseja-los. Também não sorria mais. E os fantasmas surgiam todos os dias, destemidos adentravam no quarto, olhavam-na, pronunciavam palavras desconexas. Não se importava em vê-los. Mas fugia, aninhava-se num canto e ali ficava. Por horas. Tremendo tremendo tremendo... Sozinha.
Obs: Sim, influenciável.
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