segunda-feira, setembro 10, 2007

Devalorização cultural

Já decidi. Não vou aderir. Não tentem me convencer, não venham com belas palavras, nem com gestos carinhosos. Eu não vou me deixar levar por essa corrente que propaga a mediocridade brasileira. Eu sei dos argumentos e eles pouco me convencem (acalme-se, impaciente vácuo que compõe minha massa de leitores, logo darei a explicação do porque dessas explosivas palavras...), são nulos e servem, apenas, para encobrir o que muitos poderiam ver. Vou aos fatos, então. A língua portuguesa mudará a partir de certo tempo (que é indeterminado. Ou seja, pode ser tanto de alguns anos como de rápidos meses), e garanto que não será para melhor. Claro, "esclarecidos" na questão argumentam que essas "pequenas" correções (abolição da "trema" [oh! a tão bonita trema, com seus dois pontinhos charmosos {e úteis, claro} não mais existirá!], do acento circunflexo nas paroxítonas terminadas em "o" duplo [vôo, por exemplo, se transformará em voo. É, veja só...] e nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, ler, ver e decorrentes [passará a ser então: creem, leem, veem.], eliminação, também, do "acento agudo" nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas [é o caso da palavra "idéia", que passará a ser escrita simplesmente assim: ideia. Grande idéia essa, não achas?]e, não por última, uma das quais acho a mais terrível: deixará de se usar acento para se diferenciar "pára" [verbo] de "para" [preposição].) servem, tão somente, para o crescimento e divulgação da adorada fala brasileira. Outros países integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) também irão aderir às mudanças (são eles: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), e encontraram, não obstante, alterações na suas formas ortográficas originais. Segundo representantes do governo que são favoráveis á mudança ela será satisfatória, pois o português, sendo a terceira língua mais falada no mundo, atualmente prejudica o "intercâmbio" entre os países, visto que a ortografia se diferencia de local para local. Mas, ora!, não concordo com isso. Cada povo é dependente de sua formação histórica (ok, eu sei que a nossa é portuguesa, eu sei...), e traz consigo as alterações feitas em decorrência do passar do tempo e do povo que ali se instala, da sua cultura, da sua forma de vida. Não é direito querer mudar uma língua (por menor que seja essa mudança!) que há tanto tempo já se formou. Não assim, não dessa forma grosseira e descabidamente veloz. Mudanças ortográficas demoram longas décadas (séculos, até) para acontecer, e sabemos disso. Basta pegarmos um livro do Machado de Assis e outro do Paulo Coelho (ironias à parte...) que notaremos nitidamente a diferença usual das palavras, da acentuação (não, não confunda. Aquela vírgula entre o sujeito e o predicado que tu vistes num texto do Paulo Coelho é erro de escrita mesmo...). E digo mais: como querer que um povo adquira mais conhecimentos, se torne ativamente mais "culto" e fale de forma correta se nossa gramática se torna rasteira e deposta de atributos nitidamente necessários? Isso é enfraquecer a língua, é acabar com um patrimônio cultural que demorou anos lentos para se originar, é desvalorizar uma coisa tão simples e tão bonita: a cultura brasileira.

Um comentário:

Fischer disse...

Eu tenho algo razoavelmente importanto sobre isso. Talvez não implique muita coisa, mas vou jogá-lo na mesa.
Houve reformas ortográficas em 1943 e 1972 (mas espero estar enganado, porque os anos não precisam ser tão exatos). Acho que conheces um livro em que apareça "estrêla", ou "sêca" (ou melhor, acho que conheces um livro que tenha palavras com acentos circunflexos que hoje não são aplicados). Um exemplo (disparado o mais fácil pra lembrar, ao menos para mim) é a escrita do Erico Veríssimo (claro, não que tenha em todos os livros publicados). Aquilo estava certo? Estava. Já hoje parece desnecessário, e pra mim soa estranho. Então talvez seja questão de costume (como muitas coisas!).
Então como pronunciamos "seca" como se pronunciava naquela época, então talvez quem aprenda a escrever "ideia" fale como falamos "idéia". (Na verdade é difícil crer que alguém falaria "idéia" vendo o escrito "ideia", mas temos que ver que somos adaptáveis [não sei se isso causa um conflito fonético; a causa do estranhamento pode ser somente o costume]).
Na verdade, acho que meus argumentos contra essa reforma são mais culturais que lógicos e estruturias (bem, preciso pensar melhor). Então, estou em estado indefinido: ainda não decidi se vou aderir quando entrar em vigor (às vezes um "quando" embute um "se"...). Provavelmente farei resistência (por mais fraco que seja o motivo, ainda é o meu gosto e não gostaria de não usar mais o trema ou os acentos circunflexos [e o acento diferencial! como alguém faz isso!?]).