Hoje foi uma noite de lembranças (se esse pode ser um post pessoal [quem sabe até sentimental] e pouco interessante? Sim, ele pode. Saia antes que minhas palavras se revertam em lágrimas.). Coisinhas pequenas e doces surgiram em minha mente, enquanto eu ria e mostrava os dentes e sorria de novo, e apertando uma mão contra a outra "lutava" para não chorar.
Houve um "sarau" de corais (pouco divulgado por culpa da incompetência da secretaria de cultura do município) aqui na minha cidade, e eu, recheada de lembranças, resolvi ir assistir. E por que essas lembranças todas? Porque eu gosto é de cantar. Gosto tanto que já participei de três corais, sendo o último o meu refúgio. Foi com ele (o coral) que eu passei alguns dos momentos mais engraçados vividos até hoje. Foi com ele que eu aprendi a aceitar que, bem, nem sempre somos os melhores, que nem sempre somos os principais atores dessa peça chamada Vida. Foi com ele que eu percebi que pouco importa o que os outros pensam sobre nossa lucidez (ou falta dela), e que, sim!, se pode cantar em qualquer lugar -seja um shopping decorado até o teto com luzes de natal, seja um trapiche de uma praia deserta. Foi por causa dele que passei a ver as pessoas de outra forma, a encarar algumas diferenças como absolutamente normais, a dormir em quartos com pessoas desconhecidas, a compartilhar melhor a comida, a sorrir para o outro sem receio de não receber aquele mesmo sorriso de volta. E, o mais importante: foi nele e com as pessoas que dele faziam (e ainda fazem, algumas) parte que eu pude cantar. Abrir a boca, externar o som, sentir as vozes unidas fazendo meu corpo entrar no mesmo ritmo e, até -em poucas vezes e de uma forma nada "comum"-, chorar. Vozes formando lágrimas. Era isso que acontecia.
É, acho melhor parar com o momento "minha vida e seus mais emocionantes momentos", pois você, querida pessoa que (ou por não ter nada de melhor a fazer, ou por realmente acreditar que desse texto ainda pode sair alguma coisa razoável) me acompanha, já deve ter cansado. Então, continuo falando sobre o tal do "sarau". Pois bem, fui assistí-lo. Eram seis corais se apresentando, e as músicas - como não podia deixar de ser- eram muitas cantadas em italiano. O segundo coral que subiu ao palco, adivinhe!, foi aquele do qual falei no parágrafo anterior. O meu coral. Bati palmas, sorri para todos os integrantes, pisquei para o regente, e cantei -mesmo rouca- fervorosamente todas as três primeiras músicas. Eis que chega a quarta. Aquela que eu esperei por meses para novamente ouvir, para novamente sentir seu ritmo encharcando meu corpo. "Te Quiero(do Mario Benedetti)" é seu nome. Fechei os olhos. Esperei a música começar. E ela veio. Veio cheia de vida, aguda com as vozes das sopranos fazendo a parte inicial. Depois, forte como trovões, entram os graves tenores. E, por último o contra-alto. Abri os olhos. E pensei, com uma dor estranha, que eu só queria poder estar também lá cantando. Era só isso que eu queria. Porque eu gosto é de cantar. Então, enquanto todas as vozes faziam um sensacional tom que sempre me faz vibrar, foi que as lembranças surgiram. Nítidas como dificilmente outra vez surgirão. E eu lembrei de coisas que jamais voltarão (como tudo) e que me tornaram a pessoa que sou hoje. Palavras não bastam para descrever a sensação que tive. Tão grandiosa e doída como ela só. Quando a música chegava ao final eu chorei. Enclinei a cabeça para baixo e uma lágrima quente escorreu, depois pingou ligeira na minha perna direita e evaporou. Minhas mãos batiam uma contra a outra em palmas frenéticas (que era o que todos faziam: bater palmas) e meus lábios se esticavam em sorrisos desajeitados. Mas, na verdade, o que eu realmente queria era não estar naquela cadeira macia dos espectadores, e sim em cima do palco com os tais dos cantores (dos meus companheiros de viagens exaustivas e dias ensolarados - que era o meu real lugar. O "sarau" acabou, os cumprimentos chegaram. Os abraços de "guria, que saudade de ti; Por que não volta? sentimos tua falta; Amada, eu vi a tua carinha triste na Te Quiero. Não fica triste não...; Mas não tem mesmo como faltar o curso na noite do ensaio?", os apertos de mão, as piscadelas (sempre elas!) alegres daquele que coordena, as palavras sussurradas. Depois voltei pra casa (porque ainda há um caminho). Voltei pensando que eu gosto é de cantar. E que não há coisa no mundo que seja superior ao arranjo de vozes e sorrisos que encontrei ao lado deles, os coralinos mais graciosos que conheci. Cantemos, pois o momento que se faz agora é eterno no mundo das lembranças. Ainda vou voltar. Voltarei ao mágico universo dos velhinhos que correm juntos com a lua pela praia deserta de Florianópolis.
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