segunda-feira, janeiro 14, 2008

A Idade da Razão

Enfim, férias! Foi esse o meu pensamento ontem. Passou-se um dia e já não sei mais o que fazer com os segundos tolos que se arrastam nessa casa alta e cheia de janelas. Ler, talvez. É, foi o que restou. De um golpe devorei "A Idade da Razão", do Sartre. E me senti vazia, trasparente como nunca. Não há como dizer que seja um livro fantástico, realmente fica bem aquém disso. Todavia, a estória é envolvente, uma bela analogia ao "ser livre", ao "se aceitar". Há o Mathieu, homem que seguiu sua vida buscando a liberdade, não querendo envolvimentos profundos, rogando desgraças ao tipo burguês do dia-a-dia. Deixou de viver o presente pensando na liberdade do futuro. Eis que se deparou com o inevitável: era tão preso à vida quanto qualquer outro. Era um corpo de ar, trêmulo ao vento, vazio, porém cheio de sentimentos. O que há de livre nisso? Absolutamente nada. Dessa revelação se fez sua "idade da razão". Outra personagem interessante é Daniel, um homossexual que tem nojo de sua "condição". Em certa cena do romance (dou-me o luxo de classificar assim) pensa em cortar o próprio pênis, porém, cheio de medo, desiste, amaldiçoando a existência. Digo que não há como não se sentir um pouco abalado depois de uma leitura dessas. Algo como se dar conta de certas coisas, acordar para a tal da dor que é viver. Sim, Sartre, transformaste meu sábado num inquietante e desolado domingo. Agradeço.

Um comentário:

Fischer disse...

Quando li que ele quis cortar seu pênis, absolutamente não entendi o que ele pretendia fazer. Aliás, como é difícil para mim entender algo. Que coisa... dificilmente adivinharia do que tratava aquela passagem (tive que reler para reconhecer).
Interpretei de uma forma um pouco diferente, que a Idade Da Razão foi mais uma brincadeira do que algo real, do que alguma fase nova. Mas faz sentido também o que tu escreveu. Preciso repensar e ver o que realmente aconteceu no livro. Como se realmente acontecesse. (Bem, confio que o autor quis dizer alguma coisa, e que uma hipótese é o que autor quis sugerir.)
O que mais me chama a atenção (não tão positivamente) são Ivich e Boris. Boris por aquela atitude de independência quando Lola morreu; não considero justificado um orgulho assim. Não se sabe a conversa entre Boris e Lola no dia anterior, mesmo assim acho que seria mais engraçado viver com a situação de ter se enganado sobre a morte dela do que tentar enganar-se e simbolicamente matá-la, esquecendo-a. Não acho vergonhoso voltar atrás.
Agora, de Ivich. Considero que seus atos são em maioria inúteis e efêmeros; nada do que ela diz parece ter intenção de construir alguma coisa. Somente falas casuais, supostamente imprevisíveis, ao mesmo tempo meio desnecessárias, e nem por isso especiais. Também foi estúpido o que ela fez quando soube do resultado do seu exame; não acho que se tenha o direito de abandonar-se assim. Também não gosto dela quando bebe; nem sei o que ela pensa...

O livro é muito bom, e acho que não está aquém de ser um livro fantástico. Aliás, ele consegue ter uma trama legal enquanto destrói o que começou unido. Isso é curioso.
O problema de ser bom é que o elogiamos e podemos esquecer um pouco seus questionamentos (acho que questionamentos podem ser mensagens, também [isso significa que mensagens às vezes são questionamentos, também? Acho que tenho uma resposta, mas gostaria que tu mesma pensasses]).